Certa vez também encontrei o tempo, em uma época em que eu estava triste, indignado e insatisfeito com tudo o que me acontecia. Ele me olhou, sério, sereno e me perguntou:
-Por que estás aí, sentado dessa maneira, me parece tão chateado. O que lhe aflinge?
Por um momento olhei para o sujeito que apareceu do meu lado e me perguntei o quão estranho era alguém, até então desconhecido, chegar e me questionar dessa maneira, mas ao olhar um pouco mais antentamente percebi de quem se tratava e um pouco mais revoltado falei:
-Me entristece ver que as coisas nunca parecem ocorrer como eu gostaria, como eu planejo. Chego até a acreditar que o seu amigo, o Destino, sente prazer em me ver assim, em não permitir que eu seja feliz...
-Não fale assim do meu amigo! Ele nunca que iria lhe desejar mal. Lembre-se que ele age de acordo com suas decisões, com suas atitudes. Às vezes o encontro e juntos caminhamos, com um propósito em comum. Eu, de certa forma, mais independente, mas ele sempre de acordo com as ações, com os costumes e jeitos das pessoas, por mais que ele perceba que não caminha para algo bom. É aí que minha presença ao seu lado me faz "importante", não mais do que ele, pois não somos nós quem decidimos isso. - Me respondeu o Tempo, me olhando nos olhos, com um olhar que transbordava sabedoria, experiência.
Escutei atentamente o que me dizia. Senti o peso de suas palavras, e já sem saber o que fazer lhe fiz um apelo.
-Não sei mais o que fazer. Gostaria de poder voltar, contigo ao meu lado, e desfazer tudo que o que fiz anteriomente julgando ser o certo, refazer minhas escolhas para que assim tudo caminhe como eu gostaria.
Ele abaixou o olhar e deu um sorriso, não um que me levasse a acreditar que meu pedido seria atendido, mas um que dizia "Ele ainda não compreendeu, mas logo logo entenderá". Ainda de olhos abaixados ouvi ele me dizendo:
-Infelizmente não posso chegar e simplesmente fazer isso, esse não é o meu objetivo aqui. Não vim aqui para lhe 'curar' dessa forma, mas para lhe ajudar a enxergar o que fazes. Suas ações constroem o seu caminho.
-Então me faça esquecer! Isso, me faça não ter que lembrar de todas essas coisas ruins que me acontecem.
-Posso lhe fazer esquecer o que te aflige, se me deixar. Se isso vai lhe curar não sei dizer. Pode ser que não venha a pensar nesses assuntos por um bom tempo, mas chegará um momento em que tudo poderá vir à tona novamente. - Disse o Tempo, e antes que eu pudesse questionar ele continuou:
-Não pense que isso é pra lhe punir, ou que seja para o seu sofrimento, mas tudo o que acontece, no final, o tornará mais maduro, mais experiente, lhe ensinará e por isso não posso simplesmente apagar essas coisas de ti.
Agora quem estava de cabeça baixa era eu. Ele repousou a mão no meu ombro, olhei para ele, e sorrindo concluiu:
-Estou aqui para te ajudar, mas cabe a você me guiar na maneira como quer que eu lhe ajude. Dependendo da sua escolha, poderei eu mais uma vez caminhar ao lado do meu amigo Destino e juntos, nós três, sermos bons amigos!
Ele levantou, eu já lhe retribuía o sorriso com o qual me disse as últimas frases. Bagunçou meu cabelo, em um gesto igual ao que um irmão mais velho faz com o irmão caçula. Também me levantei, apertei sua mão, e ele partiu.
Assim me despedi dele, do Tempo, com a certeza de que tinha feito mais um amigo. Levantei e parti, agora mais do que nunca com a certeza de que "Eu sou o dono do meu caminho!".